Margarida Alves era uma defensora dos direitos humanos e sua luta continua atual

Há 39 anos, no dia 12 de agosto de 1983, a líder sindical Margarida Alves era assassinada a mando de fazendeiros incomodados com sua atuação e luta em defesa dos direitos das trabalhadoras e trabalhadores rurais.

Margarida morreu atingida com um tiro no rosto. No momento do disparo, ela estava em frente a sua casa, na companhia do marido e de seu filho.

Durante o período em que esteve à frente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, na Paraíba, Margarida foi responsável por ajuizar mais de 100 ações trabalhistas na Justiça do Trabalho regional. E foi a primeira mulher a lutar pelos direitos trabalhistas no Estado da Paraíba durante a Ditadura Militar.

Em uma entrevista ao Brasil de Fato, em 2019, Maria da Soledade Leite, que conviveu com a líder sindical por quase 10 anos a descreveu como uma mulher forte. “Margarida era uma mulher forte, de fibra, muito corajosa e uma grande lutadora. Ela enfrentou uma luta ferrenha contra os latifundiários, os perseguidores dos trabalhadores, porque não era fácil naquela época.”

O crime teve repercussão internacional com denúncia encaminhada à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), até hoje não teve nenhum acusado responsabilizado pela morte da sindicalista.

“Margarida Alves era uma mulher defensora dos direitos humanos. Ela lutou para transformar a realidade em que vivia e dos que viviam ao redor dela, por isso o seu legado continua sendo fonte de inspiração pra luta. Além disso, ela nos ensina que os direitos humanos não são negociáveis, que o caminho possível para que sejam efetivados é a luta”, destaca a presidenta do Coletivo Margarida Alves, Layza Santos.

A data do assassinato de Margarida Alves ficou registrada na história do país como símbolo do Dia Nacional de Luta contra a Violência no Campo. De acordo com dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) entre 2012 a 2021 foram assassinadas 409 pessoas em conflitos no campo no Brasil.

Durante o lançamento da Campanha Contra Violência no Campo: em defesa dos povos do campo, das águas e das florestas”, realizada no dia 2 de agosto, Andréia Silvério, da coordenação nacional da CPT, afirmou que do dia 1º de janeiro de 2016 até 25 de julho de 2022, a CPT registrou 276 ocorrências de assassinatos por conflitos no campo, sendo 98 destes de sem-terra e 54 de indígenas.

“Desses assassinatos, 41% estão relacionados com as violências sofridas contra as famílias, tais como ameaça de despejo judicial, ameaça de expulsão, despejo judicial, invasão, pistolagem, expulsão, destruição de casas, pertences e roçados. Com isso demonstra-se que as violências contra as pessoas não são processos isolados e estão relacionados à disputa por territórios”.

Andreia apontou ainda que até o dia 25 de julho deste ano, a CPT registrou um aumento de 38% em mortes causadas por pistolagem em relação ao ano de 2021.

Violência contra as mulheres

A violência que assassinou Margarida Alves é a mesma que vitima mulheres que atuam na luta de defesa dos direitos humanos em seus territórios. Muitas mulheres estão à frente de sindicatos, associações, coletivos em luta.

“Tudo o que uma mulher faz ela faz bem, faz com afinco e com diferencial e acho que isso é uma das causas que podem levar atritos e provocar violências, tanto antes como agora. As mulheres quando estão à frente das organizações, são ameaçadas, escarnecidas, temos travado uma batalha árdua, mas é muito difícil, sofremos perseguições, violências, sofremos também com o machismo, o preconceito”, aponta Rosanea dos Santos, da comunidade quilombola Baú, localizada no município de Araçaí, Vale do Jequitinhonha (MG). A comunidade luta pela regularização fundiária de seu território.

Para Rosanea dos Santos diante deste cenário, as mulheres precisam se fortalecer. “Precisamos ter um norte para que a gente saiba como enfrentar essas violências que são impostas à nós”.


Texto publicado originalmente no site do Coletivo Margarida Alves

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