Acionistas minoritários e ONGs pedem destituição da diretoria executiva da Vale

Um grupo de dez acionistas minoritários, que inclui organizações não governamentais e moradores da região de Brumadinho (MG), pediu nesta terça-feira ao conselho de administração da mineradora Vale, no Rio, a destituição da diretoria executiva da empresa.

Ao conselho fiscal, o grupo também pediu a convocação de uma assembleia extraordinária para que seja demonstrada como está sendo feita a “reparação integral das violações de direitos e dos danos ambientais causados” pelo rompimento da barragem na Mina do Feijão.

“Parece claro que esses administradores da empresa são incompetentes, não conseguiram evitar o desastre mesmo sabendo dos problemas. O afastamento da diretoria é necessário para que sejam revelados aos acionistas onde a empresa falhou e o que fará para que isso não se repita”, disse o advogado Danilo Chammas, da ONG Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale, em entrevista coletiva concedida no Córrego do Feijão, bairro rural de Brumadinho e um dos mais atingidos pela lama provocada pelo rompimento da barragem na sexta-feira.

“É evidente que a manutenção dos diretores executivos em seus cargos, a cada dia que passa, compromete uma investigação isenta e profunda sobre os fatos, na medida em que essas pessoas tenderão a evitar ao máximo que a responsabilização sobre a tragédia recaia sobre eles mesmos”, diz o pedido protocolado na Vale, que também cita a perda de R$ 71 bilhões no valor da companhia no pregão da Bovespa de 28 de janeiro.

O pedido dos acionistas descreve que, quando o atual diretor-presidente da companhia, Fabio Schvartsman, tomou posse no cargo em 22 de maio de 2017, assumiu “com o objetivo de realizar uma gestão marcada pela performance, estratégia, governança e sustentabilidade”. O pedido transcreve trecho do discurso de Schvartsman, no qual afirmou: “Devemos adotar juntos um lema: ‘Mariana nunca mais’. Que tenha sido a última vez que essa empresa esteja envolvida direta e indireta[mente] num desastre ecológico e social da dimensão que foi Mariana”.

Os minoritários disseram que o desastre de Brumadinho “foi uma decepção”. “Entendemos que a diretoria executiva que está à frente da companhia demonstrou não ter tomado as medidas necessárias para evitar uma nova tragédia decorrente do rompimento de uma barragem de rejeitos, contrariando a promessa feita quando da posse do diretor-presidente”, diz o pedido dos acionistas.

Outra subscritora dos pedidos, Carolina de Moura Campos, integra o Movimento de Águas e Serras de Brumadinho, criado em 2009 depois que a comunidade de Jangada começou a receber água barrenta em suas casas. “A Vale viola direitos humanos, desrespeita a comunidade e atua com falta de transparência. Nas assembleias anuais dos acionistas, nossas colocações não foram levadas a sério. Existe um notório conflito entre Vale e moradores”, disse Carolina na entrevista coletiva.

Em nota, a Articulação criticou também “o papel atribuído à Vale como o ator responsável por gerir e divulgar dados de interesse público, imprescindíveis para a investigação deste crime ocorrido em Brumadinho”. Apontou que as exigências estabelecidas pela Vale para a doação de R$ 100 mil aos atingidos “baseadas em um conceito de família que não necessariamente se observa na realidade, podem estar impondo a estas pessoas tarefas extras para a obtenção de documentos, gerar embaraços intermináveis e, em alguns casos, inviabilizar o efetivo recebimento do recurso”.

A Articulação disse ainda que “a atuação da imprensa desde o rompimento da barragem de rejeitos da Vale em Brumadinho tem sido um fator essencial para a efetiva cobrança e apuração das responsabilidades por esse crime. É essencial que a cobertura da imprensa permaneça no decorrer do tempo, sensibilizando pessoas nas diferentes partes do país e do mundo a demandarem justiça por Brumadinho”.

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