Barão de Cocais: Movimento pelas Serras e Águas de Minas pede providências ao Ministério Público Federal

Enquanto prefeitos se mobilizam para garantir a permanência da atividade minerária em seus municípios, as populações vivem o terror gerado pelo modelo de mineração. A gravidade da situação das barragens de rejeitos em Minas Gerais não é uma preocupação recente para muitos dos ambientalistas mineiros. Diante do grave cenário vivido pela população de Barão de Cocais, em Minas Gerais, mais uma vez responsabilidade da empresa Vale, com o risco iminente da queda do talude e, com isso, o possível rompimento da barragem Sul Sudeste da mina Gongo Soco, a coordenadora do Movimento pelas Serras e Águas de Minas, MovSAM, Maria Teresa Corujo solicitou providências ao Ministério Público Federal na sexta-feira, 17 de maio de 2019. No comunicado enviado ao MPF, Maria Teresa detalha as diversas tentativas de alertar quanto aos riscos vividos pelas populações relacionados às barragens de rejeitos em anos anteriores.

Em 28 de agosto de 2018, foi enviado um ofício à Procuradora Geral da República, Raquel Dodge, e à 4ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal. Nele, ela fez um “apelo urgente à cúpula do MPF no sentido de reforçar a atuação desse órgão em Minas Gerais, em especial da 4ª e 6ª Câmaras, sob  risco de graves situações nas bacias dos rios São Francisco e Doce, de colapso no abastecimento de água na RMBH, Bacia do Rio Santo Antônio e Norte de Minas e de perdas irreparáveis, similares ou maiores que as oriundas do rompimento da barragem de rejeitos do Fundão em 5 de novembro de 2015.”

Alertas sem respostas

Ela conta que não obteve qualquer retorno após as denúncias e nem tomou conhecimento de qualquer ação do MPF nesse sentido. Mais de um ano antes, em 17 de março de 2017, integrantes dos movimentos ambientais já tinham se reunido com dois membros do GT Mineração do MPF a partir de requerimento para uma reunião em Belo Horizonte, mais precisamente para informar e alertar sobre a gravidade da situação da mineração em Minas Gerais, em especial em relação a barragens de rejeitos. “Após essa reunião nunca fomos informados de quais encaminhamentos foram adotados”, revela.

No dia 25 de janeiro deste ano ocorreu o rompimento em Brumadinho, na mina de responsabilidade da empresa Vale, e a ambientalista se sente perplexa por estar novamente diante de mais uma tragédia anunciada promovida pela mesma empresa. “Não há palavras suficientes para informar nesta mensagem a magnitude do sofrimento e terror dos moradores das localidades sob ameaça e da preocupação, angústia e indignação de cidadãos como eu que vêm atuando há anos em defesa de territórios frente à mineração, ainda mais diante do descompasso com a realidade e da ineficácia das autoridades que têm o dever de atuar em prol da coletividade e do meio ambiente e garantir os direitos constitucionais, entre os quais o de viver”, escreveu Maria Teresa Corujo na mensagem ao Ministério Público Federal.

Situação em Barão de Cocais

A preocupação da ambientalista está estampada nas capas de jornais dos últimos dias. De acordo com o geógrafo Rodrigo Lemos, integrante do Gabinete de Crise – Sociedade Civil, “o talude está com deslocamento expressivo e ao que tudo indica não há forma de contenção possível, ou seja, ele irá romper e cair na cava de mineração. A consequência é que a energia da queda desse volume de terra em uma cava com um acúmulo de água pode gerar uma “onda” e um impacto de energia que pode significar um forte distúrbio para a barragem que se encontra no mesmo nível, a barragem Sul Sudeste da mina Gongo Soco, e que já está comprometida”. Nesse caso, segundo Rodrigo, a contenção da barragem pode não resistir. “O rompimento do talude é iminente, mas não necessariamente o rompimento da barragem. Mas o risco é real e elevado”, avalia.

O Movimento pelas Serras e Águas de Minas, o Projeto Manuelzão, dentre outros movimentos, compõem o Gabinete de Crise – Sociedade Civil que foi criado em fevereiro de 2019 para monitorar desdobramentos e reivindicar segurança e defesa de direitos após o crime da Vale em Brumadinho.

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