Carta denúncia: Participação informada para a população atingida da Bacia do Paraopeba – MG

Até quando a Vale seguirá desrespeitando e asfixiando as comunidades de Brumadinho e da bacia do Rio Paraopeba?

A Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale se solidariza com o sofrimento das famílias de Brumadinho e de toda a Bacia do Rio Paraopeba que até hoje sofrem com o descaso e a ganância da Vale.  Para as pessoas atingidas, o rompimento da barragem da mina do Córrego do Feijão iniciou no dia 25 de janeiro de 2019 e seus efeitos permanecem até hoje. O rompimento, resultado de anos de descaso da empresa com relação às condições de segurança e de omissão do estado de seu empreendimento e de corrupção com as consultorias contratadas, tirou e enterrou a vida de 272 pessoas na lama. Destas, 11 seguem até hoje desaparecidas. Repudiamos ainda as tentativas da empresa ré, em afirmar que foi um acidente. O rompimento desencadeou diversas perdas de vida, contaminando a água do rio Paraopeba, impactando diversas cadeias econômicas envolvendo o rio ao longo de mais de 300km. Por irresponsabilidade da Vale, em alguns minutos, essas famílias perderam tudo: suas vidas, a vida de seus entes queridos, sua saúde, suas casas, seus quintais, seu ganha pão.

Desde então, a empresa ré Vale S/A segue se furtando de cumprir suas obrigações, muitas decorrentes de decisão judicial, violando assim os direitos das comunidades e pessoas atingidas. As medidas mitigatórias como pagamento emergencial, fornecimento de água e ração para os animais vem sendo reiteradamente descumpridas. A empresa ré escolhe para quem cumpre as medidas mitigatórias e em muitas vezes vem agindo com arbitrariedades: negando o pagamento emergencial a quem tem direito e cortando o auxílio sem qualquer aviso prévio. Ou seja, ao mesmo tempo em que a empresa retoma o pagamento de dividendos aos seus acionistas e aprova aumentos às suas diretorias, ela reluta e dificulta o acesso das famílias ao auxílio emergencial (com valor de, no máximo, 1 salário mínimo por pessoa).

Além disso, a verba emergencial tem sido usada pela Vale S/A como um instrumento para criar incertezas em torno da continuidade ou não dos mesmos e, com isso, ameaçar e fragilizar as comunidades. Mês a mês, as poucas famílias que conseguiram acesso ao auxílio, sofrem com a incerteza e o medo de que a pouca renda que hoje mantém suas famílias seja cortada. De um dia para o outro a empresa decide cortar um ou outro auxílio sem maiores explicações e as famílias que ficam à mercê das arbitrariedades da empresa. O pagamento emergencial, que deveria ser um direito, tem sido utilizado como uma arma para desestabilizar as famílias pela Vale e para asfixiar suas demandas por direitos.

Tendo em vista a destruição e contaminação da bacia, muitas comunidades seguem tendo seu direito de acesso à água potável e mineral negado. E, mesmo havendo decisão judicial (31 de maio de 2019), a empresa segue violando inclusive um dos direitos básicos e universais: o acesso a água.

Enquanto os dividendos da empresa seguem crescendo e sendo divididos entre acionistas, pessoas atingidas não tem água para beber, regar pomares, hortas, para criar animais, para viver! A falta de acesso à água, provocada pelo rompimento e que permanece com o não fornecimento de água para as comunidades atingidas, também afeta a segurança alimentar das pessoas. O peixe que era alimento e renda, agora é insegurança e medo.

Importante destacar que mesmo no contexto de pandemia da covid 19 a empresa nega fornecimento de água às comunidades tornando a situação ainda mais grave. Portanto, a empresa vem, sistematicamente violando os direitos das comunidades não fornecendo as impedindo de acessar a água, ameaçando ainda mais a saúde das pessoas, tornando as comunidades atingidas ainda mais vulneráveis. A ré de forma unilateral vem ainda definindo critérios questionáveis, de quem deve ou não receber a água.

Não bastassem tantas violações num processo que se pretendia ser reparador de direitos violados, em outubro de 2020, as comunidades atingidas foram surpreendidas por negociações que a empresa ré estava fazendo com o governo do estado de Minas Gerais sem qualquer participação das pessoas e comunidades atingidas. O procedimento em que vem sendo discutido o acordo que definirá sobre a vida e o futuro das pessoas vem sendo negociado a portas fechadas. As comunidades não têm tido acesso a nenhum documento desse acordo e nem têm sido incluídas em suas audiências e negociações.

Diante do exposto, a Articulação Internacional dos Atingidos e das Atingidas pela Vale, repudia a falta de transparência da Vale S/A e governo do estado de Minas Gerais na então proposta em negociação de acordo e vêm a público denunciar os reiterados crimes e violações cometidos pela Vale na bacia do Paraopeba. Vem ainda exigir uma resposta oficial da empresa e do governo de Minas Gerais no que tange a participação e garantia dos direitos das pessoas atingidas.

Nossa Articulação, através de seus membros atuantes em nível local, continua ainda acompanhando as comunidades que sofrem graves violações pelos projetos e atividades de mineração, dando visibilidade em nível nacional e internacional a esses conflitos.

Últimas notícias

Votos das Acionistas Críticas 2024

Votos das Acionistas Críticas 2024

A Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale (AIAAV) lança hoje (06/12) o Cadernos de Votos das Acionistas Críticas compilando os votos apresentados e 2024 durante a Assembleia Geral de Acionistas realizada pela Vale. Os votos são apresentados na...

Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale (AIAAV)
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.