Dossiê: “No meio do caminho, o rejeito: as problemáticas da mineração no contexto das catástrofes de Mariana e Brumadinho”
Que tragédia é essa que cai sobre todos nós?”
Milton Nascimento

O terrível desastre – crime para uns, incidente para outros – do rompimento da barragem de Fundão em Bento Rodrigues, subdistrito pertencente ao município de Mariana, Minas Gerais, em 5 de novembro de 2015, liberou 62 milhões de m³ de rejeitos que deixaram um rastro, em muitos aspectos irreversível, de destruição ecológica, humana e social, sobretudo ao longo da bacia do Rio Doce.

Um novo rompimento, novamente catastrófico, em Brumadinho – MG, em 25 de janeiro de 2019, despejou 12 milhões de m³ de rejeitos na bacia do rio Paraopeba, causando pelo menos 246 mortes humanas já confirmadas.

Ambas as recentes catástrofes são responsáveis pela destruição de centenas de hectares de Mata Atlântica – bioma do qual restam, hoje, apenas 12,4% de sua extensão original em território brasileiro. Os rompimentos também devastaram afluentes importantes de suas respectivas bacias hidrográficas, Rio Doce e Paraopeba, comprometendo a qualidade hídrica e da biota ao longo de quilômetros de extensão fluvial.

Esses não foram os primeiros rompimentos de barragem de rejeitos de mineração com consequências graves no Brasil e, particularmente, no estado de Minas Gerais. Todavia, dadas as suas proporções, eles intensificaram ainda mais o debate que há anos vem se desdobrando em relação ao setor, no que tange a seus impactos socioeconômicos, ecológicos e culturais, extrapolando, dessa maneira, os limites de uma abordagem exclusivamente tecnicista e/ou tecnológica das problemáticas da atividade mineradora.

Nesse sentido, as noções de desenvolvimento e progresso têm sido, por diferentes caminhos teóricos, políticos e científicos, colocadas crescentemente em xeque, uma vez que se explicita, de maneira cada vez mais contundente, a discrepância entre, por um lado, a quantidade de riquezas engendradas pela exploração de recursos naturais em países de capitalismo periférico e, por outro, a contraparte social e ecológica desse extrativismo massivo que recai sobre essas nações, cuja economia é dependente, em grande medida, das exportações das commodities.

Nessa conjuntura, o presente dossiê tem por objetivo reunir contribuições atuais, das mais diferentes áreas do conhecimento científico, que possam colaborar para a reflexão crítica acerca tanto dos recentes rompimentos catastróficos das barragens de rejeitos quanto das várias problemáticas de mais amplo espectro que a mineração tem colocado perante a sociedade brasileira.

Organizadores: Sérgio Luiz G. Gimenes Romero (UEMG) e Rafael Otávio Fares Ferreira (UEMG)

REIS: REVISTA ENGENHARIA DE INTERESSE SOCIAL

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