Após mais de dois anos sem qualquer encontro presencial por causa da pandemia, membros da Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale (AIAAV) finalmente se encontraram pessoalmente para seu “Encontro Anual de Planejamento, Monitoramento e Avaliação” para pensar e definir os passos da Articulação para os próximos três anos.
Desde ontem (16/01), doze representantes das entidades membro da AIAAV estão reunidos na cidade do Rio de Janeiro (RJ) discutindo e avaliando os últimos anos de atuação da Articulação, a nova conjuntura sociopolítica, desafios e projetos futuros. As entidades representadas no encontro são as Brigadas Populares de Minas Gerais, FASE (Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional), Instituto Pacs (Políticas Alternativas para o Cone Sul), Justiça Global, Justiça nos Trilhos, MAM (Movimento pela Soberania Popular na Mineração) e Sindicato Metabase Inconfidentes.
Além delas, estão representadas também a Secretaria e a Comunicação da Articulação e o Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), entidade parceira da AIAAV que ao longo do próximo triênio será a responsável por gerir o projeto de financiamento concedido pela Misereor para viabilizar as atividades da Articulação.
O encontro vai até amanhã, 18/01, e deve culminar com a apresentação de projetos e atividades a serem realizadas ao longo do próximo ano, além da construção coletiva de um instrumento de avaliação e monitoramento das atividades.
A Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale
A AIAAV é uma rede de solidariedade que congrega, desde 2009, diversos grupos, como sindicalistas, ambientalistas, ONGs, associações de base comunitária, grupos religiosos e acadêmicos do Brasil e do mundo. Seu objetivo central é contribuir com o fortalecimento das comunidades em rede, promovendo estratégias de enfrentamento aos impactos socioambientais relacionados à indústria extrativa da mineração, sobretudo os vinculados à empresa Vale S.A.
Ao longo desses quase 14 anos, temos denunciado muitos desastres provocados pela mineração da Vale sobre a vida de comunidades tradicionais, quilombolas, indígenas, camponesas, populações urbanas empobrecidas e trabalhadores. Em diferentes territórios, de Mariana e Brumadinho (MG) a Moçambique, de Santa Cruz (RJ) a Piquiá (MA), de Perak (Malásia) a Mendoza (Argentina), as semelhanças entre narrativas sobre os impactos da mineração e logística são o testemunho da insustentabilidade da Vale S.A. e também de todo o setor da mineração.
Uma Articulação como a nossa ganha um significado ainda maior ao conectar movimentos de incidência política e proteção dos direitos humanos e dos territórios onde a Vale S.A. atua, permitindo a construção de uma resistência global frente a uma empresa de atuação global. Essas articulações e intercâmbios visibilizam a verdadeira face do setor mineral, que promove massacres sociais e ambientais, privação de direitos e cerceiam liberdades para alcançar suas metas de lucros a qualquer custo.
Sabemos que os desastres socioambientais não afetam as populações de maneira igualitária. Ao contrário, os riscos e impactos recaem de maneira mais dura e evidente sobre grupos étnicos mais vulneráveis, negros e mulheres. Deste modo, nossa atuação se orienta pela busca da Justiça Ambiental, que procura assegurar que todos os grupos sociais, independentemente de sua origem ou renda, tenham direito a tratamento justo e envolvimento pleno nas decisões sobre o acesso, ocupação e uso dos recursos naturais em seus territórios.
A Vale
A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) foi fundada em 1942 como uma empresa estatal brasileira. Em abril de 1997, em operação que até hoje é contestada na Justiça Brasileira, a CVRD foi vendida pelo governo brasileiro por apenas US$ 3,4 bilhões, com financiamento subsidiado disponibilizado aos compradores pelo BNDES.
Após a privatização, a CVRD virou a Vale S.A., uma empresa transnacional que opera em dezenas de países nos cinco continentes. Em apenas uma década, a empresa se transformou na segunda maior mineradora do mundo e na maior empresa privada do país.
Após a privatização o perfil da empresa ficou ainda mais agressivo, intensificando conflitos sociais e ambientais. Cada vez mais, a atuação da Vale tem se caracterizado por uma política empresarial que desrespeita frontalmente os direitos de comunidades atingidas por seus empreendimentos e desafia leis, tratados internacionais e a luta organizada de trabalhadores.