Luta antirracista da juventude do Coletivo Martha Trindade

O racismo é um sistema de poder que estrutura relações sociais, econômicas e políticas, e por isso atravessa todas as dimensões da vida. O racismo ambiental, termo criado nos anos oitenta pelo ativista afro-americano de direitos civis Benjamin Franklin Chavis Júnior, é uma dessas dimensões do racismo que destrói e organiza vidas a favor da branquitude e em prejuízo de povos indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais e periféricas.

Chavis Júnior denunciava os impactos sofridos por populações afro-americanas causados por empreendimentos poluidores e perigosos em seus territórios. O ativista alertava que a instalação desse tipo de empreendimento nesses territórios era deliberada, e com ela vinha a exclusão sistemática dessas populações na formulação, aplicação e remediação de políticas ambientais.

Em outras palavras, Chavis apontava que os agentes do racismo ambiental escolhem degradar os corpos e territórios negros – e não os brancos – para viabilizar seus empreendimentos.

No episódio de hoje do Vozes que Valem, nós entrevistamos os professores e pesquisadores Flávio Rocha e Wanessa Afonso, jovens do Coletivo Martha Trindade, do território Santa Cruz, na cidade do Rio de Janeiro, que se organizaram para denunciar o racismo ambiental de empresas poluidoras instaladas no bairro, e para incidir politicamente no território buscando melhorias coletivas.

OUÇA AQUI O PODCAST

A história do coletivo

Formado por jovens moradores de Santa Cruz, Zona Oeste do Rio, o coletivo Martha Trindade nasceu em 2016, durante o processo de Vigilância Popular em Saúde realizado no bairro junto ao Pacs – Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul – e à Fiocruz. A Vigilância teve como objetivo monitorar a qualidade do ar com a presença da siderúrgica Ternium Brasil, antiga ThyssenKrupp Companhia Siderúrgica do Atlântico, a TKCSA.

O coletivo trabalha com educação popular, incidência e formação no território, tendo como eixos de atuação meio ambiente, saúde e cidade. O nome do coletivo é uma homenagem à enfermeira que foi uma das primeiras moradoras de Santa Cruz a denunciar os impactos à saúde causados pela siderúrgica. Martha Trindade faleceu em 2013.

Estrutura da siderúrgica Ternium, antiga TKCSA, foi instalada dentro do território Santa Cruz, no Rio de Janeiro. Foto: Instituto Pacs

Os trabalhos de formação e incidência dos jovens do Coletivo Martha Trindade procuram encontrar respostas e soluções coletivas para problemas que afetam o território. Além de realizar a Vigilância Popular em Saúde entre 2016 e 2021, o coletivo participou ativamente na União Coletiva Pela Zona Oeste, a UCZO, no contexto da pandemia. Os jovens do Martha Trindade realizaram doações de cestas básicas e ações de conscientização de prevenção ao coronavírus.

Em 2021, a Ternium Brasil passou por um processo de pedido de renovação da sua Licença de Operação. Nesse contexto, o Instituto Pacs e o Coletivo Martha Trindade realizaram a Campanha “Licença pra quê?”, com o objetivo de questionar os impactos causados, denunciar o descaso com a população desde a instalação e buscar do poder público a aplicação dos critérios para decidir sobre a licença.

Você pode saber mais sobre a Campanha acessando este link.

Últimas notícias

É preciso pisar o chão e ouvir a terra

É preciso pisar o chão e ouvir a terra

A liderança quilombola Anacleta Pires da Silva, do Território Santa Rosa dos Pretos (MA). Foto: Andressa Zumpano Anacleta Pires da Silva é orientada pela terra, de onde brota sua inspiração, força e sabedoria para travar lutas pelo bem-viver coletivo, pelo acesso aos...