Como uma montanha transformada lentamente em cratera, o bairro de Sobradinho, em Congonhas, é pouco a pouco destruído pela ação da mineração. Próximo a uma mina da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a localidade foi sendo alterada até hoje representar apenas uma sombra do que foi antes. Das 130 famílias que lá viveram, hoje somente restam 12.
Nesta terça-feira, dia 11, a caravana da Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale foi ao local conhecer sua história. A primeira perda do bairro foi logo o nome original. De Sobradinho virou Plataforma, nome relacionado à atividade mineira na empresa vizinha. Os moradores, no início, não percebiam o que estava ocorrer, mas os problemas foram aparecendo. A fonte de água comunitária logo desapareceu por causa da mineração. Para “solucionar” o problema, a empresa passou a fornecer água para as casas.
O avanço da mineração foi se tornando cada vez maior, em área de ação e também nos efeitos sentidos pela população. A antiga estação de trem foi destruída. Depois, o próprio trem de passageiros parou de passar. As atividades de exploração da CSN logo estavam literalmente no quintal das casas, explica Rebeca Santana, de 23 anos, uma das poucas moradoras a resistir.
“Sofremos muito com o barulho das máquinas que colocam o minério nos vagões dos trens, assim como com a poluição do ar. E a situação piorou ainda mais quando a CSN construiu um carregador de vagões novo do lado da casas. Ainda bem que o Ministério Público conseguiu uma liminar impedindo a empresa de usar esse novo carregador enquanto houver moradores aqui, pois seria impossível conviver com essa máquina”, afirmou Rebeca.
Para lidar com os moradores, foi utilizada uma estratégia clássica das mineradoras, criar brigas e divisões entre eles. As negociações foram feitas parte a parte, sendo que as pessoas que tinham mais influência política no bairro foram ganhando mais vantagens em cima das demais. Logo, eles não conseguiram se organizar coletivamente para resistir.
Aos poucos, até Deus abandonou o local. As quatro igrejas do local – uma católica e três evangélicas – foram desativadas. Na escola municipal há apenas quatro alunos. Algumas famílias aceitaram pagamento irrisórios, enquanto outras escolheram ser reassentadas em um novo bairro chamado Plataforma 2.
As 12 famílias continuam em suas casas e afirmam que não saem enquanto não conseguirem um acordo minimamente decente. A esperança de que o bairro volta a ser o que era no passado, infelizmente, foi soterrada pelo peso do minério.
Rebeca espera que a história de seu bairro sirva de exemplo para outros: “É preciso que a população esteja unida para lutar, pois as mineradoras têm muito poder para desmobilizar. Eu vejo o que aconteceu com o meu bairro e penso que, no futuro, muitos outros e a própria cidade de Congonhas pode ter o mesmo fim. Essas empresas não têm interesse algum em ajudar a comunidade. O que vai ficar para Congonhas quando o minério acabar? Vai ficar a natureza destruída, uma terra seca, um grande buraco na cidade. A mineradora vai embora, nossas vidas ficam aqui”.