O aumento do número de incidentes relacionadas à atividade de mineração no Brasil nos últimos anos acendeu o sinal de alerta para os membros da sociedade civil e evidenciou o drama de centenas de famílias que residem em regiões próximas a barragens. No entanto, a exploração dos recursos naturais ocasiona danos ‘invisíveis’ durante todo o tempo.
A observação foi feita pelo advogado Danilo Chammas, membro da Organização não Governamental (ONG) Justiça nos Trilhos, que denuncia violações aos direitos humanos e à natureza provocados pela Vale, como nas tragédias de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais.
“Acho importante a comoção quando situações desse tipo acontecem, mas há uma coisa que às vezes não aparece, não percebemos, é que na verdade a mineração mata todos os dias. Existe um modelo que é aplicado não só no Brasil, mas praticamente em todos os lugares que é muito predatório e irresponsável. Claro que nesse momento há mais repercussão, mas esses problemas acontecem todos os dias e falo porque atuo nisso há alguns anos lidando diariamente com os problemas que a mineração causa”, alertou.
“Espero que mais esse fato trágico faça com que toda sociedade finalmente se atente aos problemas que a mineração provoca, sobretudo por parte daqueles que têm o dever de agir nesses casos e também na prevenção de outros fatos, que realmente cumpram com o seu dever”, continuou o dirigente da ONG.
Dentre os males causados pela atividade mineradora, o advogado destacou a necessidade de remoção de pessoas das suas regiões de origem para a construção das estruturas, as doenças relacionadas à exploração dos metais e a contaminação do ar, a destruição do meio ambiente, culminando com os acidentes que deixaram apenas na barragem do córrego do Feijão, em Brumadinho, 157 mortos e 282 pessoas desaparecidas até aqui.
“Infelizmente há uma aquiescência por parte da maioria da sociedade em relação a esse tipo de operação e isso não pode acontecer. A esperança é de que, principalmente agora, haja uma nova postura que faça com que as pessoas e, sobretudo, os órgãos se imponham em relação aos planos dessas empresas”, disse.
O advogado esteve na cidade mineira nos últimos dias em missão da Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale prestando solidariedade às vítimas e observando os danos provocados pelo rompimento da barragem de rejeitos da mineradora.
Uma das principais queixas dos atingidos pelo desastre é a falta de informações e a dificuldade de acesso à doação financeira que a Vale oferece aos moradores da região que tiveram parentes mortos ou desaparecidos, ou perderam suas casas e capacidade de subsistência.
“Houve uma liminar do Ministério Público que obrigou a empresa a fornecer todo e qualquer tipo de assistência às pessoas, mas isso acaba criando alguns problemas por conta da maneira como está sendo executado. Nós, por exemplo, vimos que todo o atendimento seria controlado pela própria empresa. No caso da comunidade de Córrego do Feijão, ela tomou o espaço da associação de moradores e há uma relação direta do atingido com o agressor, as pessoas precisam buscar a empresa e fazer solicitações. Em alguns casos escutamos que elas não são atendidas”, denunciou Danilo.
Outra preocupação diz respeito ao histórico da Vale neste tipo de evento. Após mais de três anos do colapso da barragem de Fundão, em Bento Rodrigues, distrito de Mariana, pouco foi feito para reparação da população atingida na maior tragédia ambiental da história.
“Estive lá em novembro de 2018 e uma das medidas seria o chamado reassentamento das pessoas que moravam em Bento Rodrigues, totalmente destruída por esses rejeitos. No momento em que eu passava ali, as obras estavam apenas começando, ainda em fase de terraplanagem, não havia nada construído na área destinada ao reassentamento. Havia críticas sobre a área que foi escolhida, as pessoas nos diziam que é uma área próxima ou onde havia funcionado um lixão, então havia também essa preocupação com contaminação”, lamentou.
Ouça a entrevista de Danilo Chammas na íntegra: