Nota de solidariedade às comunidades das Ilhas Maurício em razão dos danos causados pelo vazamento de combustível do navio Wakashio da Mitsui

É com grande consternação que tomamos conhecimento do crime cometido pela Mitsui nas Ilhas Maurício que, no último dia 06 de agosto, bateu num recife de corais causando o derramamento na costa litorânea de 1.000 toneladas de óleo combustível. Trata-se de mais uma ação criminosa e rotineira dessas empresas extrativas, com danos socioeconômicos e ecológicos incomensuráveis, que não pode seguir impune.

O ocorrido, que não pode e não deve ser considerado um acidente, é resultado do modus operandi dessas corporações (como a Mitsui e a Vale) que impulsionam um modelo de produção extrativa produtor de crescentes desigualdades sociais e que ameaça a vida e a natureza. Se desde os tempos coloniais nossa história foi marcada pela extração de recursos naturais para exportação, a virada do Século XXI foi palco de um acelerado aumento no preço das commodities no mercado internacional acompanhado da intensa corrida por terras e recursos naturais em todo o planeta. Uma das marcas desse fenômeno foi o aumento vertiginoso do comércio internacional e a intensificação do transporte de commodities de países em desenvolvimento ou da periferia para as principais potências do sistema capitalista. Além dos impactos socioeconômicos e ambientais provocados nos territórios de extração, há muito denunciados por inúmeros grupos e redes da sociedade civil, o comércio internacional de commodities vem produzindo riscos e impactos crescentes ao longo de todo o percurso que liga a extração ao consumo, incluindo as atividades relacionadas aos portos e às longas distâncias percorridas pelos navios. Esse aumento desenfreado no transporte marítimo coloca em risco os oceanos, a flora e a fauna marítima, bem como impacta diretamente inúmeras comunidades que vivem nas zonas litorâneas e que dependem dos ecossistemas para a sua existência e reprodução social e econômica.

O navio Wakashio, controlado pela Mitsui, partiu da China (Tianjin) carregado de combustível rumo ao Brasil, onde atracaria no Porto de Tubarão, operado pela mineradora Vale. Aqui, o navio se abasteceria com minério de ferro que seria transportado até a China. Lembramos que a Mitsui é uma das acionistas da Vale e sócia da mineradora brasileira em inúmeros empreendimentos. O aumento vertiginoso da circulação de navios de grande porte abarrotados de commodities tem aumentado os riscos causados pelas embarcações e pela operação de portos, e tornado os desastres ambientais frequentes. No Brasil, em junho desde ano, o navio Stellar Banner, que estava a serviço da Vale e carregava minério de ferro para a China (Quigdao), ficou três meses encalhado na costa do Maranhão, representando um grande risco para todo o litoral. Ao fim, teve que ser afundado.

A Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale vem acompanhando com muita preocupação, ao longo da última década, o crescimento das atividades e do comércio internacional de commodities minerais e denunciado de forma permanente a lógica criminosa das mineradoras que, em nome da redução dos custos de produção e logísticos, colocam em risco permanente o planeta e os territórios em que operam. Por isso, o grave vazamento de óleo ocorrido nas Ilhas Maurício nos deixa tão consternados. Seguiremos acompanhado o caso e seus desdobramentos e cobrando para que os responsáveis sejam penalizados, as comunidades locais compensadas e os ecossistemas locais restaurados.

Nos solidarizamos com as comunidades e as organizações da sociedade que vem lutando contra a poluição na costa das Ilhas Maurício e solicitamos ao governo nacional que avance nas investigações desse crime ambiental e que seja bastante duro na implementação das ações necessárias para responsabilizar a Mitsui por todos os danos socioeconômicos e ambientais produzidos. Adicionalmente, todas as comunidades costeiras, cujas vidas foram afetadas pelo vazamento de combustível, devem ser compensadas pelos danos sociais, econômicos e psicológicos sofridos e ter seus direitos garantidos. O governo das Ilhas Maurício deve assegurar, também, que a Mitsui empregue todos os recursos possíveis para minimizar os danos causados aos corais e ao ecossistema local e que implemente iniciativas para recuperar os prejuízos já causados ao meio ambiente.

Pautados nas similaridades entre o desastre ocorrido nas Ilhas Maurício e o recente caso do navio Stellar Banner no Maranhão e tendo em vista que a Vale tem responsabilidade solidária e responde pelos riscos produzidos pelo transporte do seu minério até o seu destino final, é urgente que a Vale reveja todos os seus contratos com empresas de logística, em especial as de transporte marítimo, e que aplique de forma severa o código de conduta de fornecedores da empresa. Adicionalmente, de forma condizente com o recente anúncio da empresa de investir US$ 2 bilhões na redução das emissões de carbono provenientes das suas operações diretas e indiretas, nos parece imprescindível e urgente que a Vale reconsidere e encurte as longas distâncias envolvidas na sua cadeia produtiva desde a produção até o consumo e que reduza as suas emissões de CO2. Ademais, esperamos que a Vale opere com a devida diligência em matéria de direitos humanos em toda a sua cadeia de valor, como previsto nos princípios orientadores da Organização das Nações Unidas sobre empresas e direitos humanos, evitando que novos desastres como esses provocados pelo navio Wakashio e o Stellar Banner voltem a acontecer.

Até quando seguiremos vendo essas empresas destruírem o planeta e a vida em nome do lucro?

Últimas notícias

Votos das Acionistas Críticas 2024

Votos das Acionistas Críticas 2024

A Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale (AIAAV) lança hoje (06/12) o Cadernos de Votos das Acionistas Críticas compilando os votos apresentados e 2024 durante a Assembleia Geral de Acionistas realizada pela Vale. Os votos são apresentados na...

Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale (AIAAV)
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.