No dia 25 de outubro, no IFCS/UFRJ, data que marca os nove meses do crime da Vale em Brumadinho, representantes da Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale participaram da palestra de Judith Marshall, do CERLAC e da York University, organizada pelos grupos de pesquisa Desenvolvimento, Trabalho e Ambiente (DTA) e Política, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade (PoEMAS). Judith é membra histórica da Articulação Internacional e importante figura no debate da mineração no Canadá.
Na palestra, Judith Marshall debateu as semelhanças entre os modelos de mineração no Brasil e no Canadá e abordou, especificamente, o caso do rompimento da barragem de rejeitos da Mount Polley, uma mina de cobre e ouro, que se rompeu e lançou lama e resíduos tóxicos no Lago Polley em 2014 no Canadá.
Para Judith Marshall, na ordem global neoliberal, há um modelo único de mineração em vigor que atua cada vez mais através do automonitorado. Pode-se argumentar que a característica mais impressionante do neoliberalismo diz respeito às transformações no relacionamento entre Estados e corporações. O Estado, em vez de regular as mineradoras em função do bem público, torna-se instrumento para a realização da agenda de mineradoras privadas com operações globais e cada dia mais poderosas.
“No mundo inteiro, o Estado vai promovendo a expansão constante do setor extrativo, efetivamente permitindo, ao mesmo tempo, a sua autorregulação. Além disso, o Estado desempenha um papel discursivo importante, promovendo uma narrativa pró-indústria mineradora, apoiada nas ideias de que as operações extrativas podem ser sustentáveis e promotoras de emprego e desenvolvimento para a comunidade atingida e para a nação”, afirma.
Ela ainda destaca: “No Canadá, Brasil e além, esse modelo extrativo e o discurso que facilita a sua aceitação estão em debate nas várias instituições que compõem o Estado e a sociedade. No entanto, atualmente, a universidade e a igreja são duas zonas de contestação a este modelo”.
Em sua palestra, Judith Marshall trouxe o acúmulo da sua experiência no Brasil, Moçambique e Canadá referente a falência do modelo mineral, as pretensões de avanço da mineração sobre a Amazônia e povos indígenas; as ameaças e ataques ao sistema de proteção ambiental, o processo de automonitoramento de barragens, que tem se mostrado ineficiente e tem trazido insegurança e pânico a milhares de pessoas e a necessária construção de contranarrativas para desafiar e contestar o discurso oficial que legitima a mineração e seus impactos na vida de comunidades, povos tradicionais e no meio ambiente.