Os efeitos para o ambiente e os seres vivos da lama e dos rejeitos de minérios liberadas com o rompimento da Barragem 1 da Mina Córrego do Feijão, da Vale, em Brumadinho, no dia 25 de fevereiro, ainda estão longe de acabar. Uma pesquisa recente mostrou que o material que chegou ao Rio Paraopeba pode causar morte e anomalias em embriões e larvas de peixe. O estudo foi realizado com a espécie Danio rerio, conhecida como zebrafish ou paulistinha, por cientistas do Instituto Butantan e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Segundo uma das coordenadoras do trabalho, Mônica Lopes Ferreira, pesquisadora cientifica do Laboratório Especial de Toxinologia Aplicada, coordenadora da Plataforma Zebrafish do Instituto Butantan, o objetivo do estudo foi verificar possíveis efeitos tóxicos presentes nas águas após o desastre de Brumadinho. “Queríamos saber se o derramamento de rejeito de mineração provocou danos ao ambiente e às águas e aos seres que nela vivem”, explica.
Para isso, os cientistas coletaram água e lama cinco dias depois do rompimento da barragem, em seis pontos ao longo de 176 quilômetros do Rio Paraopeba. A primeira foi recolhida 26 km acima do local aonde os rejeitos chegaram ao rio, para ser usada como controle, e a última 150 km abaixo. “Na UFRJ, a equipe do pesquisador Fabiano Thompson verificou o conteúdo presente na água, ou seja, a dosagem de poluentes e a quantificação de micro-organismos”, conta Mônica. “No Butantan, eu realizei teste de toxicidade, utilizando como modelo experimental o paulistinha.”
Os resultados das análises do material são preocupantes, pois mostraram a alta toxicidade da água e da lama. Os pesquisadores constataram que os níveis de ferro foram 100 vezes maiores do que o considerado seguro pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), e os de alumínio, 1.000 vezes. Mas o mais alarmante, por causa de sua alta toxicidade, foi a concentração de mercúrio encontrada, que foi de 720 vezes acima do recomendado.
Como esse elemento não é usado na mineração de ferro, ainda não há uma explicação definitiva para esses altos níveis dele nas águas do Paraopeba. Para os pesquisadores, a hipótese mais provável é que a enxurrada de rejeitos tenha revolvido a lama do leito do rio, liberando o mercúrio ali depositado durante antigas minerações de ouro, pois ele é muito usado nesse processo.
No laboratório do Instituo Butantan, Mônica colocou embriões e larvas de paulistinha em contato com as amostrar do material coletado no rio. “Quando usamos a lama e a água assim como haviam sido recolhidas, os embriões e larvas morriam”, conta. “Depois, as diluímos até 6.250 vezes e ainda assim causaram anomalias nos peixes nessas duas fases, como, por exemplo, deformação na coluna, boca e causa, além de hemorragias e retardo no desenvolvimento.”
A partir desses resultados, Mônica diz que se pode concluir, resumidamente, que as águas do Rio Paraopeba têm níveis bastante elevados de mercúrio, ferro, micro-organismos e que, por isso, elas provocaram morte e/ou anomalias nos embriões ou larvas de Danio rerio. “Acreditamos que estes resultados devam ser compartilhados com a sociedade e com os moradores da região para que sirvam de alerta”, diz. “Eles demonstram que o ambiente foi afetado e prejudicado.”