Relatório denuncia violações de direitos humanos e ambientais pela Vale

Os casos mais graves incluem trabalho em condições análogas às de escravo, identificado em fevereiro, em Itabirito (MG), que recentemente foi objeto de denúncias ao Ministério Público. A Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale divulgou hoje (16), no Rio de Janeiro, o Relatório de Insustentabilidade da Vale 2015, com denúncias de violações de direitos humanos e ambientais, cometidas pela Vale, no Brasil e em mais oito países nos quais a empresa opera.O economista do Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul, Gabriel Strautman, explicou que o documento se opõe ao Relatório de Sustentabilidade da Vale. “O que mostramos aqui são testemunhos de que o discurso de responsabilidade socioambiental da empresa não se verifica na prática. Mostramos aqui os impactos que a empresa oculta em seu relatório”, declarou ele.

Os casos mais graves incluem trabalho em condições análogas às de escravo, identificado em fevereiro, em Itabirito (MG), que recentemente foi objeto de denúncias ao Ministério Público. A empresa também é acusada de espionagem. “Em 2013, um ex-funcionário revelou que a Vale infiltrava pessoas em movimentos de oposição às ações da empresa e grampeava telefones, não apenas de representantes de movimentos sociais, mas também de jornalistas”, contou Strautman.

“Também tiveram acesso a dados da Infoseg [rede nacional de Integração de Informações de Segurança Pública, Justiça e Fiscalização], levantamento de ficha criminal, dados da Receita Federal de representantes dos movimentos, dados que são prerrogativas apenas de agentes do Estado e que a empresa só teria conseguido mediante pagamento de propina e, portanto, de corrupção”, acusou o economista. Segundo ele a denúncia está sendo investigada pelo Ministério Público e pelo Senado.

A cacique Katia, do povo gavião Kyikatêjê, no Pará, disse que a atuação da Vale na região da Terra Indígena Mãe Maria secou os igarapés, e vem devastando a fauna e flora gradualmente. A Estrada de Ferro Carajás passa pela reserva, levando minério da Vale.

“A castanha secou, por causa do pó de minério, nossas sementes estão em extinção. Os veículos e trens que passam pela reserva espantam as caças e poluem o meio ambiente. Estamos de mãos atadas, pedindo socorro. Não sabemos mais o que fazer. Nossa terra está toda cortada. Estou cansada de ser destratada, não ter voz, de ser humilhada. Me preocupo com meu povo, luto pela história do meu povo. Estou pedindo justiça. Que parem de fazer o que estão fazendo”, pediu.

No Brasil, a Vale tem empreendimentos nos estados do Maranhão, Pará, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro.

Em São Luís e Vitória, no Rio de Janeiro e em Piura (Peru) e Perak (Malásia) pescadores denunciam que os processos de embarque do minério e a contaminação das águas em portos da Vale comprometem sua sobrevivência. O pescador Jaci do Nascimento, morador de Santa Cruz, zona oeste do Rio, disse que a luta da comunidade para a saída siderúrgica TKCSA, da qual a Vale é acionista, dura quase dez anos. “Está tudo poluído, não temos mais pescado sadio para comer na Baía de Sepetiba. Os esgotos da TKCSA vão parar nos rios que vão para o mar”, disse ele.

A Assessoria de imprensa da TKCSA informou que precisaria de mais um dia para comentar as denúncias, visto que algumas questões precisam ser aprovadas pela direção, na Alemanha, sede da empresa. Segundo o relatório, a siderúrgica elevou em 76% as emissões de gás carbônico no Rio de Janeiro, e desde 2010 funciona sem licenciamento ambiental.

Moradora do município de Catas Altas (MG), Sandra Vita, narrou vários problemas enfrentados pela comunidade e o descaso da empresa. A região abriga cinco minas da Vale. “Enfrentamos problemas respiratórios, casas com rachaduras, fluxo grande de carros, muita poluição sonora e ambiental, e nossa luta é muito desigual, solitária. A Vale passa por cima da gente como se fosse um trator. Nós só ficamos com o ônus, pois o bônus é todo deles”, declarou ela, que é da Associação Comunitária Nascentes e Afluentes da Serra do Caraça.  “É exaustivo lutar contra propinas, coerções. Vemos gente humilde, carente, aceitar R$ 10 mil reais [para sair de sua casa], que acha que esse dinheiro vai durar para sempre”, acrescentou.

Até o fechamento da matéria, a Vale não havia se pronunciado sobre as denúncias do relatório.

Fonte: InfoMoney, Lara Rizério, 16/04/15, link: http://m.infomoney.com.br/vale/noticia/3984004/relatorio-denuncia-violacoes-direitos-humanos-ambientais-pela-vale

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