Seis meses desde Brumadinho

O som incessante dos helicópteros, famílias inteiras debruçadas sobre a grade, o choro que irrompe, a busca por notícias. Por qualquer notícia. Para quem sofreu a dor da lama de rejeitos em Mariana, parecia inacreditável que um desastre como aquele pudesse se repetir. Há seis meses, a barragem de rejeitos da Vale rompia em Brumadinho, vitimando 248 pessoas. Ainda hoje, 22 encontram-se desaparecidas.

Qualquer resposta que a Vale tenha formulado nos seis meses que se seguiram mostra-se francamente incapaz de remediar tamanha brutalidade. Ao contrário, sob qualquer análise, a mineradora evidencia a completa incapacidade de exercer a sua atividade fim sem cometer verdadeiros atentados contra a vida de seus próprios funcionários, da população local, sem destruir de forma irremediável o meio ambiente e os modos de vida tradicionais.

Nesses seis meses desde Brumadinho, vimos o toque das sirenes tornar-se o símbolo da gestão do medo em diferentes municípios de Minas Gerais. O uso de remédios psiquiátricos subiu, há graves relatos de aumento dos índices de suicídio e de tentativa de suicídio. A Vale é a causa direta do adoecimento mental de populações inteiras, seja pelo trauma vivido ou pela expectativa do trauma vindouro.

As incomensuráveis perdas ambientais também fazem parte deste cenário. A Vale acumula um passivo ambiental em todas as áreas nas quais atua, fato que se tornou uma evidência pública acachapante a partir do desastre em Mariana, com o rompimento da barragem de rejeitos do Fundão. Em Brumadinho, o desastre se Renova: qualquer cenário de recuperação da biodiversidade se mede ao número de décadas.

Este 25 de Julho que marca o seis meses do rompimento da barragem do Córrego do Feijão, é também dia internacional de luta da mulher negra, latino americana e caribenha. As mulheres negras que perderam seus companheiros, filhos e netos neste desastre representam a ponta mais brutal do racismo ambiental e da precarização das relações de trabalho. Que a dor dessas mulheres de Brumadinho e Mariana seja hoje especialmente lembrada como fonte de resistência.

Não haverá descanso.

Últimas notícias

É preciso pisar o chão e ouvir a terra

É preciso pisar o chão e ouvir a terra

A liderança quilombola Anacleta Pires da Silva, do Território Santa Rosa dos Pretos (MA). Foto: Andressa Zumpano Anacleta Pires da Silva é orientada pela terra, de onde brota sua inspiração, força e sabedoria para travar lutas pelo bem-viver coletivo, pelo acesso aos...