Muriaé, MG – O segundo dia do seminário “Diferentes Formas de Dizer Não” começou com ocupação da feira agroecológica da Praça do Trabalhador, em Muriaé (MG). Depois do café da manhã coletivo, teve microfone aberto, panfletagem, música, dança e palavras de ordem contra a mineração e em apoio às mobilizações populares marcadas para o dia 13 em todo o país. Além dos participantes, estiveram também moradores e agricultores familiares da região da Serra do Brigadeiro, área que se encontra sob a mira de projetos de extrativismo.
Trabalhadores rurais aproveitaram o momento para destacar a importância que tem a agricultura familiar na defesa dos territórios. “Não é apenas dizer não. Temos que dizer não e temos que dizer o porquê. E nós resistimos porque queremos continuar produzindo, mostrando que a terra dá alimento, sustentável e pra sempre. A bauxita, a colheita é uma vez só e acaba com tudo. É a nossa resistência… Uma resistência alegre. Não é de briga, apesar das ameaças”, contou o agricultor familiar Carlos Alberto, o Pavão, do distrito de Belisário, onde lideranças já foram inclusive ameaçadas de morte por se colocarem contra a mineração na região.
Na volta do café coletivo, os e as participantes do seminário participaram de um bate-papo sobre a região da Serra do Brigadeiro, seus principais desafios e conflitos socioambientais, quase todos tendo no centro as investidas de empresas de extração mineral sobre os territórios.
Da conversa, o grupo de aproximadamente 100 pessoas que está em Muriaé para o encontro se dividiu em três caravanas que partiram para as localidades de Belisário, Miradouro e Rosário da Limeira, onde conheceram, na prática, a luta das comunidades contra a imposição dos projetos de extração mineral.
Em Rosário de Limeira foram visitadas áreas exploradas pela Companhia Brasileira de Alumínio (CBA). Lá, a mineração gerou empregos apenas durante os quatro primeiros anos. Já a barragem de rejeitos de bauxita tem 12 anos, 35 metros de profundidade e 75 de comprimento e gera medo e tensão permanentes entre moradores que convivem com a possibilidade de rompimento 24 horas por dia. Além disso, a água tem sido contaminada, os rios assoreados e a vegetação local deu lugar à monocultura do eucalipto ou à braquiária (tipo de capim).
Em Rosário de Limeira houve uma assembleia popular onde moradores compartilharam um pouco de suas angústias em relação a presença da CBA e sua barragem e falaram de estratégias, muitas delas com o apoio de líderes religiosos, para expulsar a empresa da comunidade.
“Sabemos que a mineradora se aproveita da falta de informação de algumas pessoas. Nós, enquanto comunidade, devemos ser mais duros e a igreja mais ativa. Quem vive no raio da destruição, vive com medo e é por isso que precisamos melhorar a resistência e dar as mãos com mais firmeza”, afirmou Reinaldo Barberine, da Comissão Pastoral da Terra.
A caravana de Miradouro conheceu a defesa dos territórios contra a mineração principalmente por meio da agroecologia e da agricultura familiar, atividades que mostraram que a força da economia local está na diversidade da produção, no profundo respeito à terra e às águas e num sentido pleno de comunidade.
Durante a assembleia popular de Monte Alverne, também em Miradouro, participantes do seminário de vários lugares do Brasil que tiveram os territórios diretamente atingidos pela mineração, falaram de suas experiências para moradores de 10 comunidades do entorno. Jaci do Nascimento, pescador da Bahia de Sepetiba, no Rio de Janeiro, contou da experiência de ter seu bairro impactado pela ação de uma empresa que faz parte da cadeia minero-siderúrgica, a antiga TKCSA/atual Ternium Brasil.
“Não deixem esse tipo de empresa chegar, porque depois que elas chegam é bem mais difícil de expulsar. Hoje, quem acreditou que ia ter geração de emprego e foi a favor da entrada da TKCSA, coloca sangue pelo nariz por causa da poeira toxica que fábrica solta. As crianças dão oito, nove, dez entradas no posto de saúde por problemas respiratórios. Isso acabou com a saúde das pessoas lá”, desabafou Jaci.
Diante de tantos relatos sobre como a mineração impactou os territórios, Ercilha Santos, moradora de Monte Alverne, partilhou uma das histórias da resistência local contra o avanço de um projeto de extração mineral.
“Chegou um povo e furou uns buracos. Nós deixamos, mas sem saber o que era. Descobriram que tinha muito minério. Depois chegou um povo muito educado só com proposta boa. Botaram um vídeo em que plantavam a mesma árvore no mesmo local que destruíram. Aí eles pagaram o valor de três meses de trabalho pra a gente fazer um café pra uma reunião. Que povo bom pra pagar! Mas na hora da reunião, falamos que não ia ter café, que não ia ter reunião e que deles a gente só queria distância. O pau quebrou aqui! E dissemos aqui não! Até hoje não voltaram.
Em Belisário, a caravana que foi até o distrito acompanhou uma audiência pública sobre a instalação de um projeto de extração de granito. Ali, a presença massiva da comunidade garantiu uma vitória contra a mineração, rechaçando por unanimidade a proposta. Os participantes também puderam ver de perto experiências de agricultura familiar que têm mostrado que outro desenvolvimento social e econômico, livre da mineração, além de possível, dá certo.