Seminário discute o direito de dizer não à mineração e junta experiências brasileiras que conseguiram barrar a atividade mineradora

Muriaé, MG – Começou hoje (12) o Seminário “Diferentes Formas de Dizer Não: experiências de proibição, resistência e restrição à mineração”, reunindo mais de 30 movimentos e organizações de 15 estados brasileiros. O objetivo é trocar conhecimentos e pôr em debate as formas como os territórios têm se defendido do extrativismo mineral e o direito de dizer não à mineração. 

Organizado por uma articulação que envolve o Comitê em Defesa dos Territórios frente a Mineração, a Rede brasileira de justiça ambiental, a Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale e o Movimento Nacional pela Soberania Popular na Mineração, até a próxima quinta (15), o seminário terá atividades de formação e intercâmbio de experiências que deram certo em limitar ou barrar empreendimentos de exploração de minérios.

Para inspirar as discussões, a pesquisadora Juliana Malerba, da Fase, apresentou experiências latino-americanas como as do Perú, Costa Rica e Argentina, que conseguiram limitar ou parar a atividade mineradora. “Em geral, todas essas histórias passam por disputar mecanismos institucionais – leis e convenções nacionais e internacionais -, mobilizar alianças e criar convergências entre movimentos pela defesa dos territórios e produzir narrativas e argumentos capazes de mobilizar a sociedade. E este último é o mais importante porque questiona essa naturalização da mineração como algo necessário”, explica.

O encontro quer ainda articular diferentes movimentos e representantes de territórios em torno do questionamento ao modelo mineral brasileiro, para garantir o bem estar das gerações atuais e futuras. A ideia é que todos os participantes saiam de Muriaé compreendendo que limitar a mineração é também lutar pela ampliação do reconhecimento de alternativas econômicas locais, como iniciativas agroecológicas e da agricultura familiar, além do turismo sustentável entre outros.

“Toda vez que queremos debater o modelo de mineração, dizem pra nós que a gente é contra o desenvolvimento, contra geração de emprego. A verdade é que os empregos diretos que surgem desses empreendimentos são poucos em relação às promessas e precários em termos de segurança. Há normalmente um inchaço das cidades que recebem projetos mineradores, exigindo mais dos sistemas de saúde, educação e segurança públicas”, analisou a secretária da Articulação Internacional de Atingidas e Atingidos pela Vale e pesquisadora do PoEMAS, Maíra Mansur, durante o debate da manhã.

Por meio de histórias de resistências locais à mineração, os participantes mostraram que, embora a atividade econômica gere riqueza, os prejuízos têm sido bem superiores. Antes do rompimento da barragem de Brumadinho (MG), 33% dos residentes viviam com menos de meio salário mínimo. Neste e em outros casos as empresas desfrutam de receitas superiores ao PIB das cidades em que se instalam.

Embora o primeiro dia de seminário tenha sido marcado por referências recorrentes à resistência ao extrativismo mineral nos territórios, muitos participantes ressaltaram que os impactos deste tipo de atividade tendem a se expandir geograficamente, já que a mineração requer água de rios que banham várias regiões, energia, e muitas vezes afeta a saúde de pessoas bem longe da vizinhança das mineradoras.

Maria Julia Zanon, do MAM – Movimento Pela Soberania Popular na Mineração, destacou que os prejuízos da atividade podem ser irreparáveis e lembrou das famílias que perderam entes queridos depois de crimes – por ação ou omissão – de mineradoras. “Precisamos dizer não porque tivemos mais um exemplo claro e criminoso em Brumadinho. Hoje, há mais de 1.000 pessoas evacuadas em Minas Gerais pela ação mineradora. Tem gente que não vai pra casa desde o dia 8 de fevereiro. E não estamos aqui só dizendo não. Estamos dizendo: ’nós temos alternativas”, concluiu.

Até a próxima quinta o encontro continuará promovendo discussão e convergências entre movimentos e organizações diante de um cenário que tem apontado para a consolidação do modelo mineral brasileiro, o qual, na contramão dos debates de hoje, amplia a abertura do mercado às empresas, colocando a importância da mineração acima da de outras atividades produtivas.

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