Tudo sob controle da Vale

Os primeiros dias pós-rompimento mostraram que a mineradora continuou no comando em Brumadinho

As imagens mostraram o quanto o desastre da Vale foi imenso, e naquela sexta-feira (25) não teve um brasileiro que não se solidarizou: “como será que estão essas famílias de Brumadinho?” O Brasil de Fato se fez a mesma pergunta e foi ao local acompanhar os desdobramentos.

No Espaço Conhecimento, da mineradora Vale, foi montado um centro de atendimento às famílias e vítimas. Lá se fazia o relato de algum desaparecido, informações de familiares, cadastro de uma família atingida, e também atendimento psicológico e de assistência social. Tudo sob coordenação e controle da Vale.

Quem controla a lista de desaparecidos é a Vale

Vanderlei Paulo Caetano, de Nova Lima, esteve no Córrego do Feijão pessoalmente. Ele procurava o irmão, um primo e um amigo que trabalhavam na mineradora, mas não estavam na lista de desaparecidos. “Essa lista está falha, não passa informação concreta”, lamenta. Seus parentes foram finalmente incluídos entre os desaparecidos no domingo (27).

Questionados, os funcionários (da Vale e da Defesa Civil) e voluntários que trabalhavam no local garantiram que recebiam os nomes de desaparecidos e depois enviavam à empresa. A Vale inclui na lista ou não de acordo com critérios não explicados. A Polícia Civil, por exemplo, divulgou explicitamente em seu site: “A PCMG divulga nos arquivos anexos a relação, cedida pela mineradora Vale, dos desaparecidos e localizados”.

Informações para indenizações nas mãos da Vale

Talvez mais preocupante controle de informação é no cadastro das famílias. Assim que o rompimento aconteceu, a mineradora começou a abrigar as vítimas em hotéis e atender aos familiares dos desaparecidos. Porém, era obrigatório preencher um formulário com informações sobre perdas.

A comunidade de Parque da Cachoeira ficou revoltada com a obrigação do cadastro. Cerca de 200 pessoas foram atendidas somente dois dias depois do rompimento, mesmo tendo 25 casas atingidas diretamente, e se negavam a informar, naquele momento, suas perdas. “Não queremos cadastro, queremos informação, queremos abrigo”, indignou-se a moradora Lauriane de Souza Pereira.

A rejeição ao cadastro vinha do conhecimento sobre o que aconteceu no crime da Samarco, em Mariana. Segundo o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), muitas famílias de Mariana que realizaram o cadastro no primeiro momento não conseguiram ou esqueceram de inserir bens e perdas, por conta da fragilidade psicológica, e suas indenizações foram rebaixadas.

Na terça (29), o Ministério Público passou a impedir que a Vale realize esse cadastro.

Na opinião de Joceli Andreoli, do MAB, o controle de informações por parte da Vale é “lamentável”. “A Vale ganha milhões na construção da sua imagem para seus acionistas. Ela precisa ter controle dos atingidos para depois mostrar uma boa imagem, que não é real”, avalia. Ele ainda lembra da sonegação de informações quanto aos riscos das barragens, que acabam ficando apenas dentro das quatro paredes da empresa.

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