Tüv Süd ganhou R$ 6,4 mi da Vale

Segundo a PF, empresa alemã teria optado por falsificar documentos para não perder acordos

Em pouco mais de um ano, entre meados de 2017 e o final de 2018, a alemã Tüv Süd recebeu mais de R$ 6,4 milhões em cinco contratos firmados com a Vale. Para a Polícia Federal (PF), a companhia aceitou assinar a declaração de estabilidade da barragem I da mina de Córrego do Feijão, que rompeu em Brumadinho, apesar de ter conhecimento da fragilidade da estrutura, para não perder a parceria com a mineradora. Antes da Tüv Süd, duas empresas haviam se negado a atestar a estabilidade da estrutura.

“A Tüv Süd, na minha visão, não queria criar nenhum tipo de conflito com a Vale que fizesse com que ela perdesse os contratos em vigência e outros”, afirmou o delegado da PF Luiz Augusto Pessoa Nogueira.

Entre os indiciados pela corporação está um diretor da sede da Tüv Süd, na Alemanha, que autorizou a emissão da declaração de estabilidade da barragem, apesar do fator de segurança abaixo do mínimo. Chris-Peter Meier teria sido procurado pelo consultor Arsênio Negro Júnior e dado o aval para a assinatura: “Temos documentação que nos faz ter convicção de que ele deu essa autorização”, disse o delegado. O alemão foi intimado a vir ao Brasil, mas se negou e, até o momento, não foi ouvido pela PF.

Pressão

Nenhum dos membros da cúpula da Vale está entre os indiciados da corporação. Segundo Nogueira, os documentos falsos apontados pela investigação são muito técnicos e não chegam à gestão da mineradora. Para o delegado, funcionários da Vale pressionaram a Tüv Süd a atestar a estabilidade da barragem para que as atividades do complexo minerário não fossem paralisadas. “Era para dizer para o mercado e para a sociedade que a empresa tinha 100% das barragens estáveis e que era preocupada com segurança”, afirmou.

Segundo o delegado, a contradição é que, apesar de os funcionários da Vale terem contribuído para aumentar a insegurança, eles se prejudicaram. “A segurança é um dos tripés para que recebessem bônus; se ela era quebrada, eles não recebiam”, explicou.

Chance de se romper era maior, diz cálculo

Um cálculo de probabilidade de rompimento de barragens criado pela própria Vale mostrou que a estrutura que se rompeu em Brumadinho tinha um risco maior do que o aceitável: a estrutura tinha três chances de queda a cada 10 mil anos, enquanto o limite imposto pelo estudo era de uma chance de rompimento a cada 10 mil anos. Segundo a PF, funcionários da empresa tinham conhecimento do cálculo e nada fizeram para impedir que a estabilidade da estrutura fosse atestada.

Ainda segundo as investigações, Makoto Namba, da Tüv Süd, disse que o assessor técnico da Vale, Felipe Figueiredo Rocha, tentou convencê-lo a assinar a declaração com o argumento de que outra empresa contratada pela mineradora também tinha identificado Fator de Segurança inferior a 1,3 em outra barragem e, mesmo assim, iria assinar a declaração. O delegado disse que essa estrutura não está em perigo.

Saiba mais

Respostas

A Vale informou que vai avaliar o teor do inquérito antes de se manifestar e ressaltou que vai continuar a contribuir com as autoridades. A Tüv Süd não comentou os indiciamentos. O advogado Augusto de Arruda Botelho, que representa André Yassuda, Makoto Namba e Marlísio Cecílio, disse que a conclusão da PF é “equivocada”.

Investigação

O Ministério Público Federal vai avaliar se vai denunciar ou não os indiciados pela PF. A Polícia Civil de Minas também investiga o caso e afirmou que o inquérito está em estágio avançado.

Últimas notícias

Votos das Acionistas Críticas 2024

Votos das Acionistas Críticas 2024

A Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale (AIAAV) lança hoje (06/12) o Cadernos de Votos das Acionistas Críticas compilando os votos apresentados e 2024 durante a Assembleia Geral de Acionistas realizada pela Vale. Os votos são apresentados na...

Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale (AIAAV)
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.