O Fundo de Pensão do Governo da Noruega anunciou nesta quarta-feira (13) que excluiu de seus investimentos a mineradora Vale por conta dos rompimentos das barragens de Fundão, em Mariana (2015) e do Córrego do Feijão, em Brumadinho (2019). No comunicado divulgado pelo Norges Bank, instituição que administra o fundo, “Foi recomendado que a Vale fosse excluída em decorrência de repetidas rupturas de barragens”.
“O incidente (de Mariana) causou a morte de 19 pessoas e teve sérias consequências ambientais. O relatório de um inquérito encomendado pela BHP Billiton apontou graves falhas na barragem. Os defeitos eram de natureza tal que tornava provável que a empresa tivesse conhecimento deles”, afirmou.
“Em janeiro de 2019, outra das barragens da Vale no Brasil entrou em colapso, causando um total provisório de 237 fatalidades. A investigação deste acidente ainda não foi concluída, mas há várias semelhanças entre os dois incidentes. Defeitos foram identificados na construção, manutenção e monitoramento das barragens. A Vale possui um total de 45 barragens no Brasil”, explicou.
O fundo possui cerca de 1 trilhão de dólares em recursos provenientes principalmente da renda do petróleo. Outras seis empresas pelo mundo, entre elas, outra brasileira: a Eletrobras. A instituição norueguesa justificou a decisão a partir das violações de direitos humanos durante a construção da usina de Belo Monte. “Muitos territórios indígenas são severamente afetados pelo projeto. O projeto tem levado ao aumento da pressão sobre as terras indígenas, à desintegração das estruturas sociais dos povos indígenas e à deterioração de sua subsistência”, afirmou.
“O projeto também resultou no deslocamento de pelo menos 20.000 indivíduos, incluindo pessoas com um modo de vida tradicional que costumavam ter suas casas em ilhas e margens de rios que agora estão submersas”, destacou o comunicado.
Além das duas empresas brasileiras, a diretoria executiva do Norges Bank excluiu também as empresas Canadian Natural Resources Limited, Cenovus Energy Inc, Suncor Energy Inc, e Imperial Oil Limited após avaliação das emissões “inaceitáveis de gases de efeito estufa”.
Atuação da AIAAV junto aos acionistas
A Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale – AIAAV – adota como uma de suas uma estratégias de intervenção a compra de ações da companhia Vale no mercado, com o intuito de intervir nas assembleias de acionistas sensibilizando outros acionistas através de votos críticos, demonstrando como a atuação da companhia e as decisões tomadas por seus executivos têm um impacto nas vidas das pessoas e comunidades próximas à área de operações e projetos da empresa.
Neste Ano, a Vale convocou seus acionistas para a sua Assembleia Anual para o dia 30 de abril sobre o exercício encerrado em 31 de dezembro de 2019.
A acionista crítica Michelle Cristina Farias denunciou em seu voto a falta de transparência e diálogo da mineradora com os atingidos e atingidas pelo crime ocorrido em Brumadinho, Minas Gerais. “As comunidades atingidas não sabem quais medidas já estão sendo efetivamente tomadas para descaracterização das barragens na região e para a reparação dos danos, o que inclui, obviamente, as inúmeras perdas materiais e imateriais provocadas pela Vale”, disse.
Farias denunciou ainda a protelação da Vale nos planos de descaracterização de rejeitos de minério, como a que rompeu em Brumadinho em janeiro de 2019.
“De todas as barragens de rejeitos que, em janeiro de 2019, a diretoria da empresa anunciou que seriam descaracterizadas até o final do ano, somente uma foi efetivamente descaracterizada. E as outras?”, questionou.
Leia aqui mais sobre a participação dos acionistas críticos na Assembleia Geral Ordinária de investidores da Vale em 30 de abril de 2020.